terça-feira, 8 de julho de 2008

A mídia e a maioridade penal

Antes de mais nada, seja qual for a situação, é de fundamental importância analisar, com muita cautela, tudo o que a "toda poderosa" Rede Globo nos apresenta.
Sabemos que a licença para o funcionamento dessa emissora se deu por ocasião do Regime Militar, que durou 21 longos e tristes anos de repressão, censura e mortes. O que já é de se desconfiar...
No período de redemocratização, a emissora do senhor Marinho teve papel importante na eleição de Fernando Collor de Melo, político "filhote da ditadura", marajá, corrupto, fiel colaborador, em Alagoas, dos militares.
Dessa forma, a rede do "plim-plim" manipulou a massa, pintando uma imagem de político jovem, atlético em oposição a um metalúrgico pobre, barbudo e "analfabeto".
Assim, a maioria dos eleitores, por uma questão de falta de reflexão e conhecimento mais profundo no campo da política, depois de 21 anos de ditadura, elege um dos representantes desse regime, tendo, como cabo eleitoral, a Rede Globo.
Poucos anos depois, por uma questão de conveniência, a mesma empresa de televisão, mais uma vez, manipula a massa com a intenção de causar uma reação negativa da população ao desastroso governo do então "polítíco-atleta".
Assim, para fomentar um contexto de contestação ao governo, é exibida a série Anos Rebeldes, que retrata o período em que os militares estiveram no poder e a reação de jovens estudantes e da sociedade como um todo.
Com isso, estavam lançadas as sementes das passeatas a favor do impeachment , que "tiraria" Collor do poder, dando a falsa idéia de que o povo, nas ruas, clamando por clareza política, expulsou o presidente.
Dessa mesma maneira, com a semelhante intenção de influenciar a opinião pública, a referida emissora trabalha, agora, com o intuito de aproveitar a comoção gerada pelo brutal assassinado do garoto João Hélio em prol da diminuição da idade penal.
Nesta semana, mais precisamente nesta terça-feira, dia 27 de fevereiro, os pais do garoto participaram dos minutos finais da novela Páginas da Vida, apresentando seu desejo de justiça e de revisão das leis para menores que cometem crimes.
Com essa atitude, a Rede Globo consegue mobilizar, e sensibilizar, um número razoável de brasileiros que, através desses depoimentos - e da postura de muitos dos apresentadores de programas do canal 13 - começam a tomar partido pela luta pela diminuição da idade penal no País.
É sabido que nosso sistema prisional não é um dos mais eficazes, também sabemos que as políticas para o menor infrator são falhas, mas gritar "aos quatro ventos" a favor da diminuição da idade penal, sem uma discussão séria com todos os setores da sociedade chega a ser uma atitude, no mínimo, leviana.
De que adianta diminuir a idade penal para 16, 15 ou 14 anos se nada, ou quase nada, será feito para evitar que a criança se corrompa e ingresse no mundo do crime? Em que resolveria a questão do menor infrator essa luta travada pela Rede Globo em busca de punições mais severas para esse delinqüente juvenil?
Será que não estamos, apenas, tirando a arma das mãos de um garoto de 17 anos e colocando nas mãos de um de 15? Que mudanças significativas teremos para evitar a marginalização em todos os sentidos?
Acredito que, diminuindo a idade penal, seja mais um equívoco em meio a tantos outros quando a questão é social.
Se não nos detivermos na revisão das questões de base, como a estrutura familiar - com uma revisão de seus valores e normas -, a participação da escola na formação desses jovens, a responsabilidade do governo em promover políticas sociais sérias e de toda a sociedade, observando que todo cidadão é, também, responsável direto de tudo que o envolve, diminuir a idade penal do adolescente será apenas mais uma medida paliativa - e desastrada- e, dessa forma, ineficaz.
Enquanto não houver uma reflexão séria, comprometida e responsável, promovendo um debate em torno dessa e de tantas outras questões, depoimentos em novelas e declarações de apresentadores, enfim postura como a que a Rede Globo está assumindo em nada irá resolver, de fato, o problema da criminalidade deste País.

Cristiane Castro.

(Observação: texto escrito à época da novela Páginas da Vida. Levem em consideração que esse tema é, na verdade, atemporal).

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