terça-feira, 8 de julho de 2008

Um segundo “Canudos” é possível (?)

Quando da instalação da República e um “louco” chamado Antônio Conselheiro - idealizador de um grupo de oposicionistas ao governo- foi acusado de ser o líder de um levante contra o sistema em questão, as pessoas – digo, a elite – procuraram tão logo eliminar o que poderia ser uma célula política séria contra o poder estabelecido.
Esse arraial, o qual ficou conhecido por Canudos, era um pequeno território, no sertão da Bahia, às margens do Rio Vaza Barris, onde, no final do século XIX, um grupo de pessoas acreditava que era possível viver em coletividade, com justiça social e respeito aos direitos individuais.
Mas, como já é de supor, essa idéia desagradava às pessoas que detinham o poder, uma elite que pregava a desigualdade sócio-educacional, a concentração de renda e promovia a miséria (curioso é perceber que era situação não muito diferente da atual).
Nesse espaço territorial chamado Canudos, Conselheiro conseguiu reunir um número significativo de pessoas – devido à motivação religiosa, valendo-se de uma maioria crente nas leis divinas - cujo objetivo era contestar a grave crise econômica pela qual o Brasil estava passando, defendendo o retorno da Monarquia, não porque este era um regime justo, mas, na concepção do líder religioso – conselheiro acreditava ser um enviado de Deus para lutar contra as desigualdades sociais – seria o poder nas mãos dos reis menos injusto.
Assim, durante um bom tempo, esse grupo reagiu, valentemente, às incursões do governo – no total de quatro -, fazendo com que este usasse toda a sua força policial para dizimar os rebelados.
Aqui, ficam algumas indagações: a) o que fez Canudos resistir por tanto tempo, sendo um grupo de humildes brasileiros que acreditava mesmo em um modo de vida mais justo e humano? b) Quais as razões para a criação de um “mundo paralelo”? c) Seria, mesmo, Conselheiro um louco? d) De onde vinha sua loucura? Da idéia da luta por uma vida melhor? e) Seria possível um novo Canudos?
Na prática, os condomínios de luxo de nosso País, de uma certa forma, configuram-se como um Canudos, mas, em uma observação mais crítica, um refúgio da elite para a defesa do que a classe marginalizada ( por essa mesma elite) pode vir a fazer contra seus bens e seus entes queridos. É, na prática, um Canudos às avessas: onde o que importa é a defesa de interesses particulares.
Mas, se pensássemos, utilizando a linha de raciocínio de Conselheiro, que um novo Canudos, um agrupamento de pessoas cujo interesse era mesmo a defesa de uma vida mais ética, justa e digna, ainda é possível, como iriam nos analisar? Seríamos loucos? Seríamos banidos da vida social?
Talvez, mas, apesar dessas acusações, estaríamos fazendo nossa parte, em meio ao absurdo que é viver – e conviver - com tantas injustiças, tantos desmandos, tantas desigualdades (refiro-me não só à social, mas à racial, à de gênero e a outras), tanta falta de ética. Seria, sim, uma “loucura”, mas, antes de tudo, um grito, uma reação ao que assistimos, muitos de nós, ainda, de forma passiva.
Cristiane Castro.
15/03/07

Nenhum comentário: